28 de Junho | 2023 - Por Nelson Wilians

Gritos do Coliseu nos estádios de futebol

 
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Ao ver as imagens deploráveis de rojões e sinalizadores arremessados contra jogadores no clássico entre Corinthians e Santos, na Baixada Santista, rememorei as recentes manifestações racistas em estádios da Espanha, Argentina e daqui do Brasil.

Ainda que distanciadas por um contexto cultural, social e de muitos séculos, a violência nos estádios de futebol contemporâneos, da mesma maneira que acontecia no Coliseu romano, é uma demonstração de execução pública que atinge a dignidade e os direitos fundamentais das pessoas em razão de sua etnia.

Há algum tempo escrevi que, se todas as histórias de pessoas negras massacradas pelo racismo fossem colocadas em uma lista por ordem alfabética neutra – e não cronológica – ficaríamos estarrecidos com a semelhança dos fatos e a brutalidade geracional contínua. Ontem e hoje, uma das formas mais estúpidas de acionar o botão da violência ainda é a cor da pele.

Por todos os ângulos que se olhe, a única coisa que vemos nessas manifestações nos estádios é a bestialidade humana, como se via no Coliseu romano: “a crueldade é um dos prazeres mais antigos da humanidade” (Friedrich Nietzsche).

O racismo é uma manifestação da violência moral, que causa sofrimento e perpetua a desigualdade, estabelece barreiras e reforça a exclusão e a segregação.

No Coliseu, a violência era parte integrante do espetáculo e tinha uma aprovação legal; e, convenhamos, isso envolvia figuras de dois mil anos atrás. Nos estádios de futebol trata-se de um problema a ser combatido pela sociedade e pelas autoridades esportivas mundiais.

A nossa Constituição é clara ao dispor expressamente que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão”, nos termos do art. 5º, XLII.

Os gritos racistas nos estádios são uma tentativa de criar um sentimento de superioridade e reforçar a identidade dos grupos que os emitem, de estabelecer o “nós contra eles”.

O combate ao racismo requer uma abordagem abrangente, que envolve programas de inclusão, educação e conscientização em escala global, portanto, de forma alguma deve-se relevar ou desprezar as denúncias, que devem ser prontamente investigadas e tratadas segundo os termos da Lei.

Não podemos permitir que essa inexplicável resistência social em aceitar que todos devem ser respeitados igualitariamente ressoe nos estádios de futebol como os gritos por sangue no Coliseu.

Por

  1. Nelson Wilians Fratoni Rodrigues
  2. CEO e Sócio-Fundador

  3. São Paulo/SP

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